quinta-feira, 30 de junho de 2011

(Reposting) Quase

Muitas vezes penso nas coisas que quase fiz, nas palavras que quase disse, nos lugares onde quase cheguei, nas pessoas que quase conheci, nos desejos que quase realizei, nos momentos que quase vivi.
Não penso nelas como uma perda, na verdade, nunca cheguei a tê-las. Estive perto. Estive quase.
Nunca ninguém me disse que não as podia ter. Nunca ninguém me disse que não as merecia. Apenas me desencontrei de umas e cheguei tarde a outras.
Consigo lidar bem com as perdas definitivas. Sou Escorpião e, tal como dizem os astros, morro e renasço facilmente. Supero o que não é possível. Esqueço o que não está ao meu alcance.
Um não doi, magoa, fere... mas liberta-me e faz-me querer virar a página. Consegue ter em mim um poder regenerador que me faz querer seguir em frente, mesmo que noutra direcção.
Já o talvez desafia-me, atiça-me, motiva-me. Saber que talvez possa ir por ali, ou por acolá... saber que talvez possa chegar onde quero, que talvez possa ser, sentir, viver o que desejo, deixa-me inquieta, ansiosa e desperta em mim uma teimosia sem limites.
O talvez incomoda, enerva, fervilha, mas tem um gosto doce de possibilidade, que só perderá ao transformar-se num não.
Mas o quase deixa uma sensação de vazio. Vazio de algo que esteve próximo mas não chegou a estar.
É um talvez que deixou de o ser, mas que nunca chegou a ser não. É um livro que perdi, sem ter acabado de ler.
Dizer que se esteve "quase a" poderá parecer reconfortante. Afinal, significa que tentámos, que fizemos alguma coisa e que quase conseguimos. Não foi uma derrota imediata. Tivemos possibilidade e estivemos quase lá.
Quase... mas não chegámos a estar.
Não gosto dos quase que existem na minha vida. Não me libertam. Não me reconfortam. Pelo contrário, transformam tudo o que esteve quase... em quase nada. 

(Julho/2007)

Quatro anos depois, parece-me que consegui aprender a procurar atalhos que me levem directamente ao sim ou ao não. Os quases são uma perda de tempo. E eu já não me permito perder o meu. 

13 comentários:

  1. Ai, quem me dera ser assim.
    Tu sabes bem como sou... :s

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  2. São as lições que vamos tirando da vida.

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  3. estou a entrar nessa fase! :S

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  4. Isso é importante, saber contornar os muros e chegar ao nosso lugar.

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  5. Se adoptarmos uma perspectiva optimista podemos dizer que os "quase" não são uma perda de tempo, uma vez que todas as experiências da nossa vida nos ensinam algo e nos ajudam a crescer. Mas são realmente frustrantes!
    Cumprimentos :)

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  6. Sem dúvida Ana.Os "quase" ou "talvez" nada resolvem e ainda por cima são capazes de levar ao desperdício de muito tempo numa vida ou outras oportunidades que, por vezes, nem nos apercebemos que lá estão.A muito custo pessoal percebi que não deve haver meios termos em muitos aspectos e o "Sim" ou "Não" tem de logo decidido.Evidentemente que passamos pelos "quase" ou "talvez", mas se realmente deixarmos-nos de "jogos" ou "deixa andar e logo se vê" mais rapidamente mudamos a nossa vida para o bom ou para o mau.Eu não quero um dia chegar a pensar que devia ter feito isto ou aquilo, devia ter arriscado naquele momento e não fiz ou tantas outras coisas que nos arrependeremos de não o ter feito.A vida é curta e apenas existe uma.Há que saber aproveitar o momento seja ele um olhar, uma palavra, um desejo, um passeio, um café ou seja lá ele qual for.Hoje podemos não fazer o que queremos e amanhã já não ter a hipótese.

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  7. São os teus "quases" e os meus "ses"... erradiquei-os!

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  8. Olá,

    Gostei muito do teu post.
    A experiência, fruto do passar dos anos, é que nos faz ter outra forma de encarar a vida e as situações.

    Beijo e bom fds

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  9. O quase é realmente um vazio mesmo, e depois há os "se"...é bem melhor o sim ou o não!

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  10. Gostei do teu texto...
    eu odeio os "talvez" ... os quase... aprendo a tolerar... os "se" já foram pedra no sapato...

    agora... são apenas "se" na vida... que passam a talvez ou a quase... consoante o dia...

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  11. Das coisas que mais me arrependo... foi daquelas que não fiz!
    Daquelas que estive quase... quase e à última da hora recuei!

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  12. Esses "quases" trazem sempre alguma corrente de ar...o melhor mesmo é definirmo-nos e tomarmos uma decisão!
    Beijinho

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