sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Uma questão de opção

Quinta-feira, hora de almoço, tema de conversa ao acaso : as traições (e a minha visão sobre elas).


Partindo da certeza de que todos somos humanos, logo seres imperfeitos, então todos nós temos os nossos momentos de fraqueza, todos nós falhamos, todos nós nos confrontamos com sentimentos, emoções e sensações por vezes contraditórios e que nos poderão apanhar de surpresa.
Ninguém vive num mundo perfeito, onde todos os dias são perfeitos, onde tudo está sempre bem, onde tudo bate certo a toda a hora, onde nada é questionável.

Todos nós somos assombrados por dúvidas, uma vez por outra, ou até muitas vezes. Todos nós temos maus momentos. Todos nós nos podemos sentir distantes. Todos nós nos podemos sentir sozinhos. Todos nós podemos sentir curiosidade. Todos nós podemos ser alvo de sedução. Todos nós podemos sentir mil e uma coisas inexplicáveis e repentinas a qualquer altura da nossa vida e independentemente do que sentimos pela pessoa com quem estamos.

Mas mesmo com todos estes argumentos e muitos mais que se possam arranjar, para mim, a traição é, e sempre será, uma questão de opção. Quem trai sabe o que está a fazer, a não ser que esteja devidamente dopado – o que até serve como uma óptima desculpa, mas normalmente funciona bem é em filmes e novelas. Quem trai, trai porque quer – a não ser que tenha uma arma apontada à cabeça, coisa que já nem como argumento para uma qualquer comédia barata serve. Quem trai tem sempre a opção de não o fazer, independentemente do momento, das circunstâncias ou da fase que esteja a viver.

Trair não é a mesma coisa que ir na rua, tropeçar numa pedra e cair num buraco. Trair não é como adormecer ao volante e espetarmo-nos com o carro, vencidos pela força do sono ou do cansaço. A traição não é um momento de distracção, uma inevitabilidade causada por uma força maior ou um acidente. A traição é uma opção. Podemos não ser responsáveis pelos nossos sentimentos, mas somos responsáveis pelo que escolhemos fazer com eles. E quem trai, escolheu trair. Optou.

Quem trai sabe tudo o que isso implica. Sabe que está a ser desleal. Sabe que poderá magoar o outro. Sabe que poderá pôr em causa o relacionamento que tem. Sabe que está a mentir, a ocultar, a enganar. Mas mesmo assim opta por trair.

“Foi só um deslize”, “Foi mais forte que eu”, “As coisas não andam bem”, “Já não sei o que sinto”, “Foi só por curiosidade”, “Foi uma coisa sem importância”

Tudo bem. E daí?

Não sou perfeita. O meu mundo não é perfeito. Nem sempre tive certezas ao longo da minha vida. Não sou imune a tentações ou a curiosidades. Já tive maus momentos. Já me senti baralhada, confusa, indecisa, perdida. Já me senti distante de algumas pessoas. Já senti que já não sentia o mesmo. Mas nunca fui dopada nem nunca tive uma arma apontada à cabeça. Por isso sempre pude optar, sempre pude escolher o que fazer com o que sinto ou deixo de sentir em cada momento.
E se eu sempre optei por não trair, então tenho o direito de não perdoar quem optar por faze-lo.

Porque não passa disso mesmo, de uma opção.


28 comentários:

  1. Eu sou da opiniao de que sim... e uma opcao...
    a questão é que toma essa opção terá que estar ciente das proprias consequências dela...

    podem existir atenuantes sim mas... o grau de confiança sofre um forte impacto e isso... por vezes nem o tempo devolve...

    Jinhos

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  2. Ainda ontem estive a debater esta temática da escolha. Não aplicada à traição, mas também de um ponto de vista relacional.

    A minha opinião é a mesma do que a tua, consciente ou inconscientemente (dopados e com a arma apontada à cabeça), vivemos de escolhas.

    Assim como optamos por deixar desenvolver um interesse que pode chegar à paixão, levando-nos a entrar numa relação, também optamos por seguir um interesse, que desperta te(n)são e leva-nos à traição.

    Ou seja, quer num caso quer noutro o nosso papel não tem nada de inocente e a nossa opção é premeditada.

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  3. Eu Mesma:

    Para mim a questão das atenuantes nem se põe. Podem existir dezenas de argumentos, motivos, justificações, o que quiserem... nenhum é mais válido que outro, na minha opinião. Porque na hora H existe opção de escolha, escolha essa que pode ser baseada no respeito pela pessoa com quem se está, no respeito por si mesmo, no que se sente, no que se pretende, e por aí fora. Quando se opta por trair, algum desses factores é simplesmente posto de parte.

    Quanto à confiança, para mim, ela simplesmente não volta. É caminho sem saída.

    beijinhos

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  4. não discuto a traição
    mas discuto fortemente a mentira.
    cada um é responsável pelos seus actos e suas decisões. como dizes, tem o direito de optar ok. e também tem mais que o direito (tem o dever!!!) de assumir a sua opção e respectivas consequências como diz EuMesma. então deixem-se de dopagens ou armas e reconheça-se que o ser humano não é por natureza monogâmico mas vive em sociedade e portanto ou segue as regras ou aguenta com as consequências ou... vai viver para uma ilha deserta

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  5. Mariza(P.Gira):

    Exactamente o que acho. Por isso é que disse que podemos não ser responsáveis pelos nossos sentimentos, mas somos responsáveis pelo que escolhemos fazer com eles. E quanto à premeditação, eu até me poderia alongar neste assunto e dizer que quase todas as situações que poderão levar à traição são voluntariamente criadas por nós e não pela situação que vivemos ou pelas fases que atravessamos.

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  6. Escarlate:

    É aí que entra a parte em que digo que quem trai sabe o que está a fazer e o que isso implica e tem - ou deverá ter! -consciência das consequências. E se mesmo assim opta por trair, mentir ou seja o que for, sujeita-se a elas voluntariamente.

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  7. Xixi!! Só comentadoras...
    Vou sair de fininho.

    :)
    Um óptimo fim-de-semana carnavalesco.
    Beijos

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  8. JP:

    É pena, ficava aqui bem um pouco de controvérsia masculina:-)

    Bom fim-de-semana para ti!

    beijinhos

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  9. Neste aspecto sou radical, não é opção não é nada é o fim, bem pode logo rescindir o contrato. Viver sem confiança não dá...

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  10. C.C:

    Foi o que eu acabei por dizer no final do post. Para mim não há desculpas nem argumentos válidos.
    Chamo-lhe opção porque quem faz, faz porque quer. E isso para mim também é o fim.

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  11. Não perdoo traições, nunca, jamais!

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  12. Mel:

    Nem eu... e mesmo que quisesse, não voltaria a conseguir confiar. Logo, nada a fazer.

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  13. https://www.blogger.com/comment.g?blogID=2140739145105609270&postID=1782143027860977993&isPopup=true

    Ultimo comentário... parece tirado a papel quimico...

    Há coisas...

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  14. Miguel:

    Já fui espreitar.
    Sem dúvida parece...

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  15. É opção, mas tmb nem sempre é fácil escolher.

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  16. Mau Feitio:

    Aceito que assim seja para muita gente. Se fosse fácil, não existiria tanta gente a trair, certo?
    Para mim nunca houve qualquer dificuldade em escolher, mas isto sou eu que, quando tenho alguém, nem deixo que certas situações se desenvolvam a ponto de ter de optar por alguma coisa.

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  17. Ola!!

    É como tu disseste é uma opção de quem trai, quem o faz têm consciência do que faz, por isso não aceito qualquer tipo de desculpa, falo por pexperiência própria, já o fiz e sei que temos tempo para ponderar/decidir/reflectir se o fazemos ou não, se decidimos ir em frente ou não, e há que assumir as consequências dos nossos actos, custe o que custar.... tão simples quanto isso.
    Eu sofri as consequências e apesar de tudo.... se não o tivesse feito não era a mulher que era agora mas gostava de não ter magoado a outra pessoa...


    Bjokas =D

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  18. Ana,

    A tua ultima frase diz tudo o que interessa: "quando tenho alguém, nem deixo que certas situações se desenvolvam a ponto de ter de optar por alguma coisa".

    Isto faz TODA a diferença.

    O que se vê muito por aí é pessoal comprometido a brincar às seduções... a ver o que dá... Começam na brincadeira (e muitas vezes de brincadeira não tem mesmo nada) e depois chegam a um ponto onde realmente têm de optar. E nessa altura, sim, nem todos têm tudo no sitio...

    Depois a culpa não é de ninguém, são coisas que acontecem, não foi possivel resistir... sei lá. Qiualquer desculpa serve...

    O teu post está clarissimo.
    E muito bem escrito.

    Confesso que até metade estava meio surpreendido com o caminho que estava a tomar...

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  19. Patinho Feio:

    A questão é essa mesma, assumir que se fez porque se quis, conscientemente, e não espetar com meia dúzia de desculpas esfarrapadas.

    Bjinhos

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  20. Miguel:

    Pois é isso tudo sim. Nada a acrescentar:-)

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  21. Quando comecei a ler ainda pensei que estavas a defender quem trai. E espantei-me com isso, pois não contava que tivesses essa opinião. E não tens. Concordo com tudo. É uma opção. Independentemente das razões que usam para se desculpar, traíram com consciência. E cabe ao traído decidir como reaje.

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  22. Pois é cada um de nós tem mesmo o direito de optar e todas as acções têm as suas consequências...

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  23. Então, Ana?

    Desinspirada?
    Ou ocupada com coisas bem melhores que pensar aqui no pessoal que te vem ler?

    Bom fim-de-semana (e desejos que seja a 2ª...)

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  24. Miguel:

    Um pouco de tudo e mais algumas coisitas:-)

    Bom fim-de-semana!

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  25. Ana, devo dizer te que concordo absolutamente contigo e que este post está muito bem escrito!
    No meu caso eu tenho ideias muito rigidas à cerca da traição, porque vi o que trair faz numa casa sei que não se deve dizer "nunca", mas conheço em bem ao ponto de dizer que o que uma traição faz à outra pessoa é algo que eu não quero NUNCA ter na min ah consciencia e sim é uma questão de opção.
    Bjnhoo**

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  26. Quem procura a perfeição, não a encontrará!!

    [Agradeço o coment ao último post que leste no "crónica" e peço desculpa por o omitir, por enquanto... dado que me precipitei e publiquei o post errado, no dia errado! Logo que o republique, o teu coment aparecerá! Obrigado pela visita!]

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  27. Bloguótico:

    Pois, de facto, a perfeição não existe. Mas podemos aprender a lidar com ela e não usa-la como desculpa para os nossos erros.

    (Realmente estranhei quando lá voltei e não vi o post, mas está explicado!)

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