quinta-feira, 30 de setembro de 2021

(Reposting 2007) Viagem

Existem lugares que marcam a nossa vida. São lugares cheios, não cheios de gente, mas cheios de nós.

São lugares que contam a nossa história, sussurram-nos lembranças, gritam os nossos segredos.
Guardam em cada parede um olhar, em cada canto uma lágrima, em cada objecto um sorriso. São lugares que nos queimam por dentro e nos roubam a alma por instantes.
Fazem-nos viajar a recantos de nós que julgávamos não mais existirem. Ressuscitam emoções que um dia quisemos deixar morrer.

Voltei a um desses lugares onde tantas vezes me perdi de mim mesma, e onde tantas outras me encontrei. Onde o tempo parava para me ouvir gritar sentimentos em silêncio, embalados por uma música cuja letra contava uma história igual à minha.
Voltei e revi-me, revi-me em cada canto, em cada objecto, em cada palavra. Senti na pele o calor das noites sem fim e na boca o doce amargo sabor de cada momento ali vivido.

Saí de mim mesma e deixei-me ir, como quem vai em busca de uma qualquer resposta, supostamente deixada ao acaso num dos cantos daquele lugar. Deixei-me novamente embalar pelas velhas músicas que ainda contam a mesma história. Uma história que ainda é a minha.
Esqueci quem sou e procurei quem fui. Viajei por mim mesma e reencontrei caminhos já esquecidos. Caminhos que ficaram ali guardados, sem nunca levarem a lugar nenhum.

Chegada a hora de ir embora, voltei a mim. Despedi-me de quem fui e abracei quem sou.
Deixei que cada refrão me contasse uma história diferente daquela que foi a minha, talvez a que ainda quero viver.

Devolvi cada emoção a cada parede, a cada canto, a cada objecto, e lançando-lhes um último olhar à saída, pedi-lhes baixinho que continuassem a guardar as minhas lembranças, para nelas seguir viagem sempre que me apetecer ali voltar.

(Outubro 2007)

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