sexta-feira, 30 de março de 2012

Também posso falar dos aviões (mas estes não são os dos Azeitonas)

Quando, há cerca de três anos, a empresa onde eu trabalho mudou de instalações, eu achei que ia dar em doida com o barulho dos aviões a passarem ali baixinho, o dia todo. Sentia os vidros a estremecer, mal conseguia ouvir os meus colegas, e até eu me calava por uns segundos cada vez que algum passava, já que nem a mim me conseguia ouvir em condições. Aquilo era um inferno, e eu só me perguntava como é que as pessoas que moram naquela zona conseguiam ter noites descansadas.

Hoje já nem os oiço. Quase que poderia jurar que o aeroporto se mudou para bem longe, ou que os ditos deixaram de passar por ali. Mas não, eles continuam a passar, e continuam a fazer o mesmo barulho infernal. Não foram eles que mudaram, fui eu que me habituei. 

E se, em relação aos aviõezinhos, isto me parece uma vantagem, o mesmo já não sei se poderei dizer em relação a tantas outras coisas que deixam de nos incomodar. É que, parecendo que não, cria-se a ilusão de que esses barulhos infernais deixaram de existir, acabaram, livrámo-nos deles. Mas, na verdade, eles continuam a fazer os vidros estremecer, e continuam a dar cabo dos nossos ouvidos, só que de uma forma muito mais perigosa: sem darmos por eles.

11 comentários:

  1. Aconteceu-me exactamente o mesmo quando vim morar para Lisboa há quatro anos. Lembro-me de pensar "Como é que eu vou viver aqui? Como é que eu vou dormir?", mas, em menos de nada, habituei-me e agora até gosto quando dou por eles :)
    Nunca tinha pensado nessa analogia, mas não podia concordar mais.

    ResponderEliminar
  2. Uma questão de hábito em relação aos aviões... na casa da minha mãe temos como vizinho um galo. Durante a primeira semana na casa ouvia imenso o galo, depois deve ter sido comido no Natal e eu nunca mais o ouvi. Ou então continua a cantar e nunca mais reparei nele.

    No que toca às outras coisas... uma pessoa pode fingir, tentar ignorar, mas as sacaninhas continuam lá.

    ResponderEliminar
  3. Adorei este texto e adorei a comparação.
    Na realidade até podemos ter ali aquela pedra no sapato e já nem a sentimos. No final do dia podemos reparar que afinal ela lá estava e até fez ferida.
    Muito bem visto.
    beijinhos

    ResponderEliminar
  4. É mesmo, acabamos por nos habituar, eu que o diga, que sou vizinha deles. Mas como não passam por cima do edifício, como por exemplo na Faculdade de Direito e na Av. Brasil,não incomodam tanto. Só me fazem vontade de viajar, quando estou de manhã a beber o café à janela e os vejo levantar.
    Beijo e bom fim de semana

    ResponderEliminar
  5. Somos mesmo uns animaizinhos de hábitos, não haja dúvida!!

    ResponderEliminar
  6. Durante anos trabalhei numa zona de Lisboa onde os aviões passavam constantemente... estava na rota deles...

    sinceramente.... só no dia 11 de Setembro é que se notou o barulho.... de resto.... já nem os ouvia :)

    ResponderEliminar
  7. Ai os barulhos... ao menos esse é grave e bonito... agora imagina lá em minha casa...eu a dormir.. e a ouvir... tac... tac tac tac..... tac... qualquer coisa que pinga na casa de banho e me deixa louco! o problema é que é na tubagem do prédio...

    ResponderEliminar
  8. Tens toda a razão, e incomoda.me pensar que há coisas que não me incomodam mais, porque por e simplesmente deixo de pensar nelas, e com isto não estou obviamente a falar de barulhos, porque sinceramente, de todos os males com que nos habituamos, esse e o menos grave!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ritinha, exactamente! A minha intenção aqui não era falar do barulho dos aviões ou de qualquer outro, mas sim chegar aí mesmo: às coisas que deixam de nos incomodar por habituação, por comodismo.

      Eliminar
  9. Eu moro ao pé do Aeródromo e sinceramente o barulho das avionetas não me perturba, apenas os cães "novos lá na rua" a ladrarem de noite, pois que os antigos também já nem os ouço... Há sons que vivemos com eles (no meu caso) a minha vida toda e que já nos passam ao lado já não nos incomodam, ou isso ou os meus ricos tampões nos ouvidos!!!!!!

    ResponderEliminar
  10. São essas coisas a que nos vamos habituando e deixamos de sentir que nos causam o stress...Aquele stress miúdinho, que faz com às vezes nos apeteça mandar tudo às urtigas!

    ResponderEliminar